A areia era clara, calma, fria. O céu tinha um azul bem
aberto que se unia ao mar em dégradé. Eles estavam lá sentados na areia,
aproveitando a sombra da falésia cheia de raízes, terra e folhas. Estavam em silêncio olhando o mar e se
olhando através dos olhos do outro. Ela olhava suas feições, o desenho de sua
sobrancelha a beleza de seus cílios os tons de verdes dos seus olhos. Ele
olhava para ela e se voltava ao mar, levou o cigarro à boca. Puxou. Prendeu.
Soltou o ar e passou para ela, que puxou. Prendeu. Soltou suavemente olhando
para o mar com ele. Será que viam o mesmo mar? Ela passou para ele e o viu mais fino que
antes... à medida que soltavam o ar para o mundo, iam liberando suas almas para
vento. A matéria, aos poucos se afunilava. Não sei se a alma que voava ou se a
matéria que de tão fina e tão leve começou a ser levada pelo vento. O que sei é
que o vento carregou a leveza destes dois seres tomados pela liberdade do bem
estar. Voaram até a nuvem mais próxima
onde decidiram se acomodar para apreciar a vista. Ele trazia questões a ela que
ela não sabia responder, mas que gostava de ouvir –na verdade ela gostava de
escutar a voz dele tentando falar em espanhol com um sotaque que misturava
portunhol com italiano-. Eles se entreolharam sorrindo e ele se aproximou dos
lábios dela e lhe deu um beijo doce e cheio de carinho que aos poucos foi
ganhando força, chama, paixão. Eles estavam tão fortes que furaram a nuvem e
iniciaram uma longa queda livre. O beijo continuava cada vez mais intenso. E
eles continuavam a cair. Até que o pára-quedas se abriu e eles se olharam. Seus
olhos gargalhavam de alegria. Eles desciam leves. Voltavam à terra. Uma terra amarela e azul com uma musicalidade intensa.
Não sei se a música tocava no espaço ou em suas almas. O que sei é que dançavam
nus no espaço azul e amarelo
e riam
e corriam
e iam...
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