sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Corpo Poético - Uma história que é difícil de desnvolver



Trecho do relatório para a disciplina de pedagogia do corpo

Era uma sexta-feira dia quatro de março de 2011, acordei sem me espreguiçar, com o corpo cheio de pressa para ir à aula de pedagogia do corpo, cheguei cedo. Este foi o dia em que fui apresentada a máscara neutra, ao vesti-la acabei preenchendo todo o meu corpo de tensão, sufoco e medo. Era o medo da descoberta de um mundo que havia dentro de mim e que eu antes não prestara atenção. A cada dia descobria algo novo, era como se fosse apresentada mais uma vez àquela máscara, era uma escrita em um livro cheio de páginas brancas onde cada página era um dia, e uma não se ligava a outra, porém era a continuação da anterior.

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Essas páginas, muitas vezes já repletas de palavras que serão reescritas, vão formando este ator que não só acredita ou identifica-se, mas interpreta como diz Lecoq em seu livro O Corpo poético. E interpretar não é demonstrar, é se fazer entender, e para isso é preciso que o ator se auto-interprete, se conheça, tenha consciência do seu corpo. É preciso que o ator entenda que poética existe dentro de si, e para isso é necessária a neutralidade, pois não se escreve poesia em um papel cheio de informações, assim não há espaço.

Os exercícios iam sendo passados sexta após sexta. Perguntas iam surgindo, mas não havia uma resposta objetiva para nenhuma delas. “Como é ver algo inesperado dentro daquilo que eu já estava observando?” me perguntava, toda vez que começava e terminava de executar o exercício de olhar um barco no horizonte. Às vezes fechava os olhos antes de vestir a máscara pra tentar perceber que barco era aquele, mas no momento em que vestia a nova face e me virava para o restante da sala, me esvaziava de imagem e ocupava toda minha mente de cuidados: Cuidado com o grupo, cuidado com os pés, cuidado com o dedinho da mão direita, cuidado. Ficava tensa. Nunca pensei que fosse tão difícil imaginar. Chegava á frente de todos e começava a observar o horizonte, mas como posso observar o barco no horizonte se mal posso ver o horizonte? Não basta pontuar, mudar o grau de energia, o ator tem que ver e fazer o outro ver junto com ele, caso contrário não há comunicação, não há poesia.

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A comunicação corporal não se dá em prosa, se dá em poesia. O ator deve ser como disse Aurora “(...) As que falam como uma novela, em vil prosa, são essas moças românticas e pálidas que se andam evaporando em suspiros; eu falo como um poema: sou a poesia que brilha e deslumbra!” (p.21)[1].O ator deve brilhar com o mínimo de esforço, deve fazer a sua poética transparecer.

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Hoje, chegando ao fim da disciplina sinto como se meu aprendizado esteja apenas começando. Olho pra trás e vejo um caminho com mar, cais, navio, horizonte, areia, floresta, montanha, deserto e um sol, tentando se pôr no fim para que um novo começo chegue.



[1] ALENCAR, José de “Senhora”. Editra Martin Claret- outono de 2003