quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Tarot


Gente Glória Britho , astróloga com mais de 20 anos de experiência e taróloga também, lançou esse E-book incrível sobre tarot. Cada conto está precedido de uma breve descrição das características pertinentes ao Arcano, dando assim um embasamento para a compreensão da leitura, não só dos iniciados, mas também do público leigo no assunto. E você ainda vai encontrar, no final desse livro, um presente singelo: As Mensagens do Tarô para o Ano Pessoal. É só fazer um pequeno cálculo e conhecer o Arcano que irá reger a sua vida no período compreendido entre um aniversário e outro. Saiba aproveitar sabiamente os seus conselhos.
Digaí se não vale a pena! Claro que vale e por apenas  29,50. Eu super indico!

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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Troncal 10

Estava na parada de ônibus quando te encontrei. Você chegou e foi direto olhar os ônibus que passavam ali. Não demorou muito, o Troncal 10 chegou e nós demos o sinal, chamando o ônibus. Eu entrei primeiro e sentei na janela ao lado de uma senhora. Você entrou, e primeiro ficou de pé. Logo sentou numa cadeirinha, ficando quase de frente pra mim. Não vi o momento em que sentou. Quando te olhei, já estava lá, olhando a janela e anotando em um pedaço de papel. Você olhava a paisagem do aterro do flamengo e escrevia em seu papelzinho. Eu fiquei te observando, pensando: O que será que ele está escrevendo? Será que é o que ele vê? Será que é o que ele imagina? Será o que ele imagina e vê? Ou será o que ele imagina que vê? Ou o que vê que imagina? A senhora já não estava mais sentada do meu lado. Nem percebi o momento que ela saiu. Estava concentrada em você, na sua escrita. Você tem uma letra tão miudinha. Parecia um dos personagens da minha imaginação. Tinha um jeito peculiar de morder o lábio inferior enquanto escrevia. Eu te observava escrever no papel, enquanto escrevia na mente esse conto. Eu observava seus detalhes, da sua barba por fazer bem desenhada, do band-aid no dedão do seu pé direito, da sua calça amarela, de como coçou o olho. Você observava a janela.
Você me olhou. Num susto olhei para a janela. Acho que um susto por ver que você era real, ou uma reação cotidiana do mundo em que vivemos, que tem medo dos olhos do outro. A gente se assusta quando nossos olhos encontram os olhos de um desconhecido. Mas você não era mais tão desconhecido para mim, mesmo não sabendo nem seu nome, nem de onde vem, nem seu signo. Mas sabia que tinha a letra miúda, gosta de calças de pano com cores, machucou o dedão do pé recentemente, que tem uma mania de morder o lábio inferior enquanto escreve, gosta de escrever e observar a paisagem (perto de tudo isso um nome não é nada). Voltei a te olhar e você ainda olhava para mim, não demorou muito, logo voltou sua atenção a sua escrita. Será que escreve sobre mim ou só se assustou com meu olhar? Pensei. O aterro acabou e o ônibus entrou em direção a lapa. Você ficou meio perdido. Nos olhamos de novo. Você guardou o papel na mochila. Colocou a mochila nas costas se levantando da cadeirinha e caminhou em minha direção, para a porta de saída do ônibus. Olhei para minha janela e senti você passar por mim. Desceu. Olhei seu caminho até que então...desapareceu.
E assim acabou mais um romance de ônibus.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre Aquilo Que Vi

Para Alexandre


Segunda, 30/06/2014

Uma vez li uma fábula em que um peixe virava homem. Hoje vi homem virar chuva escorrendo no espaço.
As mãos da chuva eram feitas de rocha fundida em placas tectônicas em movimento; o peito era feito de água-viva; e os pés, das raízes de um baobá. O resto era chuva dançando em pingos grossos de um temporal silencioso.
Os pontos luminosos do céu me indicavam caminhos não óbvios para o existir de minh’alma transeunte, e a chuva, que eu via fundida ao homem, levava meu olhar numa valsa incandescente.
Num espaço mágico, tão mágico como aquele, as possibilidades reverberam à existência daquilo que é visível, com cores de passagem, num instante transitório onde tempo e espaço são narrados pela ação.

E tudo vira poesia narrada pelo cruzeiro do sul e pela luz alaranjada e prateada e azul. E o silêncio grita a minha gratidão em poder presenciar essa existência revelada pela transitoriedade de ser em vida. 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Árvores

 
Árvore do caminho. Foto: Josie Pessoa

  Sempre tive fascínio pelo céu... ia pela estrada com os olhares hipnotizados nos tons de azul e nas formas das nuvens. O céu sempre me chamou, me trouxe a liberdade que eu tanto desejo. Dessa vez, na estrada, a paisagem que me puxou os olhares não foi a do azul, meu olhar estava mais baixo. Me encantava com as formas das árvores e os tons de verde das plantas e gramados misturados com os tons secos das montanhas. A árvore sozinha no alto da montanha verde viva falou comigo palavras sem lógica, mas cheias de amor e beleza. O conjunto de laranjeiras tinha um amarelo gritante num berro natural e minimalista. E o conjunto de árvores que não sei a espécie, com um ar de filme europeu me transportou para outro espaço bem longe de mim. A árvore seca acinzentada me mostrava o silêncio do qual as pessoas tem medo, aquele silêncio que provoca o tão difícil encontro com nosso eu. E os pequenos galhos e folhas saídos das pedras me ensinavam que tudo é possível dependendo do nível de determinação que se tem.  Aquele campo verde com um lago imenso, me lembrou do quanto sou pequena nesse mundo. Sou uma formiguinha perto daquelas árvores de tronco grosso com raízes expostas e barrocas.  Lembrei de Arnaldo Antunes me cantando: "As árvores são fáceis de achar, ficam plantadas no chão"... Lembrei também da árvore da parada do 52 perto da minha casa, em Natal. A árvore que dá sombra e acompanha aqueles que esperam, que avisa aos ônibus que ali tem gente esperando. Aquela árvore já me protegeu do sol do meio dia e já conversou comigo algumas vezes quando a espera era longa. Lembrei da nossa longa conversa numa noite a uns 6 anos atrás.

    Antes, interpretava o meu fascínio pelo céu como uma manifestação do meu espírito sedento de liberdade e cheio de sonho (ainda vejo assim), a paixão pelo céu não se apagou, mas ao me deparar inteiramente cativada pela terra durante pouco mais de 6 horas de estrada fiquei curiosa quanto a essa nova percepção de espaço, seria uma nova percepção de mim? Será que a mudança de ares me trouxe outras mudanças? Meus desejos estão criando raízes? A terra me traz mais clareza de mim.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eles dois...


A areia era clara, calma, fria. O céu tinha um azul bem aberto que se unia ao mar em dégradé. Eles estavam lá sentados na areia, aproveitando a sombra da falésia cheia de raízes, terra e folhas.  Estavam em silêncio olhando o mar e se olhando através dos olhos do outro. Ela olhava suas feições, o desenho de sua sobrancelha a beleza de seus cílios os tons de verdes dos seus olhos. Ele olhava para ela e se voltava ao mar, levou o cigarro à boca. Puxou. Prendeu. Soltou o ar e passou para ela, que puxou. Prendeu. Soltou suavemente olhando para o mar com ele. Será que viam o mesmo mar?  Ela passou para ele e o viu mais fino que antes... à medida que soltavam o ar para o mundo, iam liberando suas almas para vento. A matéria, aos poucos se afunilava. Não sei se a alma que voava ou se a matéria que de tão fina e tão leve começou a ser levada pelo vento. O que sei é que o vento carregou a leveza destes dois seres tomados pela liberdade do bem estar.  Voaram até a nuvem mais próxima onde decidiram se acomodar para apreciar a vista. Ele trazia questões a ela que ela não sabia responder, mas que gostava de ouvir –na verdade ela gostava de escutar a voz dele tentando falar em espanhol com um sotaque que misturava portunhol com italiano-. Eles se entreolharam sorrindo e ele se aproximou dos lábios dela e lhe deu um beijo doce e cheio de carinho que aos poucos foi ganhando força, chama, paixão. Eles estavam tão fortes que furaram a nuvem e iniciaram uma longa queda livre. O beijo continuava cada vez mais intenso. E eles continuavam a cair. Até que o pára-quedas se abriu e eles se olharam. Seus olhos gargalhavam de alegria. Eles desciam leves. Voltavam à terra.  Uma terra amarela e azul com uma musicalidade intensa. Não sei se a música tocava no espaço ou em suas almas. O que sei é que dançavam nus no espaço azul e amarelo
e riam
e corriam

e iam...