sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eles dois...


A areia era clara, calma, fria. O céu tinha um azul bem aberto que se unia ao mar em dégradé. Eles estavam lá sentados na areia, aproveitando a sombra da falésia cheia de raízes, terra e folhas.  Estavam em silêncio olhando o mar e se olhando através dos olhos do outro. Ela olhava suas feições, o desenho de sua sobrancelha a beleza de seus cílios os tons de verdes dos seus olhos. Ele olhava para ela e se voltava ao mar, levou o cigarro à boca. Puxou. Prendeu. Soltou o ar e passou para ela, que puxou. Prendeu. Soltou suavemente olhando para o mar com ele. Será que viam o mesmo mar?  Ela passou para ele e o viu mais fino que antes... à medida que soltavam o ar para o mundo, iam liberando suas almas para vento. A matéria, aos poucos se afunilava. Não sei se a alma que voava ou se a matéria que de tão fina e tão leve começou a ser levada pelo vento. O que sei é que o vento carregou a leveza destes dois seres tomados pela liberdade do bem estar.  Voaram até a nuvem mais próxima onde decidiram se acomodar para apreciar a vista. Ele trazia questões a ela que ela não sabia responder, mas que gostava de ouvir –na verdade ela gostava de escutar a voz dele tentando falar em espanhol com um sotaque que misturava portunhol com italiano-. Eles se entreolharam sorrindo e ele se aproximou dos lábios dela e lhe deu um beijo doce e cheio de carinho que aos poucos foi ganhando força, chama, paixão. Eles estavam tão fortes que furaram a nuvem e iniciaram uma longa queda livre. O beijo continuava cada vez mais intenso. E eles continuavam a cair. Até que o pára-quedas se abriu e eles se olharam. Seus olhos gargalhavam de alegria. Eles desciam leves. Voltavam à terra.  Uma terra amarela e azul com uma musicalidade intensa. Não sei se a música tocava no espaço ou em suas almas. O que sei é que dançavam nus no espaço azul e amarelo
e riam
e corriam

e iam...