segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Lembranças


Manhã do dia 27.10.2010


Manhã. Sonidos. Ruídos. Martelos. Ferraduras. Me mantenho sentada no banco do Deart. Escuto a música que se mistura a construção.
Hoje o céu tem nuvens carregadas. A chuva que sai do aguador das plantas me chama. Calor. Me mantenho no banco pensando na vida.
Se não existe "Quem é" ou "Eu sou", mas "Quem está" ou "Estou", então quando perguntamos "Como você está?" queremos saber quem você é naquele momento.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Você sabe o que tem naquela placa amarela?



Chego a casa de minha tia avô e a primeira criaturinha com quem me deparo é a minha priminha que deve ter seus 4 anos (nunca sei a idade das pessoas). Ela olha pra mim e, antes mesmo de dizer oi, pergunta apontando para a placa na cerca elétrica:
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?
- Não. Respondo
- Cerca Elétrica. Perigo.
E logo depois olha pra minha mãe e diz:
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?
e depois pro meu pai...
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?
e depois pro meu irmão...
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?
E quando meus tios chegam ela corre e pergunta
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?
E todos que chegam a casa ela recebe com o mesmo discurso.

Um certo momento ela segura minha mão e me leva pra um lugar próximo a cerca e pergunta:
- O que é aquele "X" com um esqueleto?
- É uma caveira dizendo que ali é perigoso.
Ela começa a ficar inquieta e bater nas pernas e eu acabo ficando sem ação.
- Perigo, só tem perigo...o que é perigo? eu não sei o que é perigo, por que não tem uma tartaruga? Por que tem uma caveira? Eu não sei o que é perigo, mas é perigo...
Eu fico de joelhos e dou um abraço nela.
-Calma Clarinha. Ó, perigo é uma coisa que machuca...
- E faz sangue?
- Isso mesmo...
Ela volta a ficar inquieta questionando a caveira e começa a criar uma história para aquilo.
- Por que se a gente tocar lá a gente vira um esqueleto? A gente vai acabar perdendo os dentes. E como que a gente vai comer sem dentes? Vai ficar todo mundo com cara de esqueleto, ai vai ficar todo mundo igual. Como eu vou saber que eu sou eu?
O que? de onde essa criança tá tirando essas perguntas? Eu fico sem resposta por horas, só escutando ela falar. Ela fala sem parar. Eu começo a ficar meio tonta com tantas indagações.
Após um tempo eu digo.
- Você não vai virar um esqueleto é só brincar longe da cerca que fica tudo bem.
Ela para.
Olha nos meus olhos por alguns segundos em silencio.
Olha pro lado e vê seus dois priminhos brincando.
Diz:
- Eles nem sabem o que é perigo.
E corre até eles e pergunta:
-Você sabe o que tem naquela placa amarela?